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27.12.12

Obrigada 2012!


Já contei para vocês, no começo deste ano, como é significativo para mim a virada desta página do calendário. Não vou ficar repetindo esta ladainha, o que me faz vir aqui escrever sobre isso novamente é mais a vontade de dividir a minha alegria em ter conquistado várias coisas neste ano. 
Uma das sensações que me mais me atormentam, é aquela de olhar para a lista de metas e sonhos e, ver que ela só cresce, que a vida continua igual, que está tudo no mesmo lugar. Em verdade isso é o pessimismo falando mais alto, no entanto sempre há um ponto ou outro verdadeiro. Tem coisas que tentamos há anos, tantos anos que nem acreditamos mais ser possível conseguir. 
2012 começou com uma festa incrível que me fez acreditar que seria um ano incrível também. Mas confesso que até junho foi nebuloso, pesado e difícil. Todos os grandes projetos que apontaram ao final de 2011 e pareciam ser A CHANCE de mudança na minha vida, naufragaram. Uma a uma as portas foram fechadas na minha cara e aberto um buraco embaixo dos meus pés. O tombo foi maior ainda quando achei que teria que abandonar o Minha saia é mais justa. Debati-me com isso dias e noites. Eu amo aquele projeto, amo a proposta do blog e a forma como nos expressamos lá. Não queria desistir dele e nem vê-lo afundar comigo neste buraco negro que minha vida estava. Mas a situação se resolveu, o blog desde então só cresceu e cada vez me faz acreditar mais que fazê-lo vale muito a pena. 
O único grande acontecimento do primeiro semestre foi a primeira parte da minha tatuagem. Então, chegou junho e com ele todas as revoluções que fizeram de 2012 um dos melhores anos da minha vida! Com orgulho e cara lavada, sem sequer um gloss para dar brilho, reproduzo aqui para vocês a minha listinha com os OKs ao lado:
  • Emagrecer - ok para 18kg;
  • repensar a vida profissional para ganhar mais - ok para ganhar mais;
  • fazer jazz - ok;
  • quitar dívidas - ok para 2 e meia, não foram todas ainda;
  • sair mais - ok;
  • conhecer ao menos um lugar diferente - ok, conheci dois (Jericoacoara e Fortaleza/CE) e vou conhecer outro ainda, onde passarei o ano novo (Ilhabela/SP);
  • comprar uma bicicleta - ok;
  • tatuar a fênix - ok;
  • casa - trocar lustres e torneira da cozinha - ok; comprar utensílios em geral e trocar as velharias - ok;
  • manter e ampliar os blogs - ok e,
  • escrever mais - ok. 
Não é gostoso de ler tantos OKs!? Claro que teve um monte de ítens que não consegui e não os escrevi porque aprendi que só se conta o que já se conquistou. O que ainda é projeto, deve ser projetado, não anunciado. E falar sobre isso por si só já dá um bom post, me cobrem em 2013.
Também é claro que aconteceram coisas ruins. Tive problemas sérios com pessoas que eu considerava muito e por isso hoje elas não fazem mais parte da minha vida. Minha avó morreu. Homem continua sendo um produto de 1,99: é acessível, parece bom, mas não dura mais que um dia. Não comprei meu carro e não ganhei a promoção que queria (foi uma outra coisa que aumentou minha renda). Tive dengue! E mais todas as chateações que reclamei no facebook e no twitter o ano todo e que por isso mesmo saíram de dentro de mim e se dissiparam por aí. 
A conclusão final, de que 2012 foi um dos melhores anos da minha vida, vem pela lição principal que o ano me trouxe: sim as coisas dão errado, mas sim, elas também dão certo. E isso me faz esperar 2013 com muita calma. Vão ter coisas boas e ruins, com toda certeza. Vou enfrentar umas e me deliciar com outras e vou continuar contando tudo aqui para vocês ;)

21.12.12

Sorteio!



No Minha saia é mais justa fizemos neste mês uma entrevista com a Lara Fidelis, escritora e amiga que acaba de lançar seu primeiro livro "Tsunami". Ela, muito fofa, ainda nos doou dois livros para sortearmos entre os leitores. Então corre no blog ler sobre a Lara e o seu livro e, corre na fanpage do blog para participar do sorteio. 

Participar é super fácil, o sorteio rola no primeiro sábado de 2013, dia 06 de janeiro. Uma boa começar o ano ganhando um livro novinho né!? 


Só digo uma coisa, o meu já está garantido e não vou concorrer com vocês, fiquem tranquilos ;)

15.12.12

As Aventuras do Sr. Pickwick


"Parece, portanto, que o povo de Eatanswill, à semelhança do povo de muitas outras localidadezinhas, considerava-se importantíssimo, e que todo o habitante de Eatanswill, cônscio da força do próprio exemplo, se julgava obrigado a pertencer, de corpo e alma, a um dos grandes partidos que dividiam a cidade - o dos Azuis e o dos Amarelos. Ora, os Azuis não perdiam ensejo de fazer oposição aos Amarelos, e os Amarelos não perdiam ensejo de fazer oposição aos Azuis; e a consequência era que, toda vez em que se encontravam Azuis e Amarelos numa reunião pública, na Casa da Câmara, na feira ou no mercado, surgiam disputas e palavrões entre eles. Com essas dimensões, fora quase supérfluo dizer que tudo, em Eatanswill, se convertia numa questão partidária. Se os Amarelos propunham que se retalhasse a praça do mercado, os Azuis organizavam assembleias públicas em que atacavam a proposta; se os Azuis propunham a ereção de mais uma bomba na rua principal, levantavam-se os Amarelos como um só homem e pasmavam de tamanha enormidade. Havia lojas Azuis e lojas Amarelas, estalagens Azuis e estalagens Amarelas; na própria igreja havia uma nave Azul e uma nave Amarela. 
Era, sem dúvida, essencial e indepensavelmente necessário que cada um desses poderosos partidos escolhesse o seu órgão e representante: e, por consequência, havia na cidade dois jornais - a Gazeta de Eatanswill e o Independente de Eatanswill; o primeiro advogava os princípios Azuis e o segundo obedecia a uma orientação decididamente Amarela..." (Charles Dickens)

2.12.12

Palco




O último texto que escrevi aqui foi sobre meus sonhos de infância e o fato de que enfim realizaria um deles: dançar. O texto de hoje é como uma continuidade. Subi ao palco e fiz a minha primeira apresentação de jazz na vida.
Eu fiquei nervosa, absurdamente nervosa, por um mês antes. Não bastasse a situação de ter que escolher entre duas coisas muito importantes, tinha o medo e ansiedade para o tão sonhado momento.
A ansiedade dominou de uma forma que há tempos eu não sentia. Respiração ofegante, dor no peito e tremedeira virou coisa normal no meu dia. Um dia antes então eu cheguei a pensar em desistir e ir pra São Paulo. Comecei a me achar uma tonta em pensar que conseguiria, ia errar tudo e seria horrível.
Geralmente minhas neuras duram até eu entender o que realmente está me incomodando. Era a apresentação, mas o quê? Eu não sabia a coreografia? Sabia. Eu dançava feio? Não, inclusive era elogiada pela turma. Eu estava com vergonha? Não, sempre fui sem vergonha pra essas coisas. Eu estava com medo? Sim. Mas medo do que? E aí eu não achava a resposta.
Fui achá-la só no último ensaio, um dia antes. Eu estava com medo de me decepcionar. Minha preocupação não era com o público. Por mais que quem sobe no palco viva do público, eu não estava pensando nisso. Eu não decidi fazer isso pelo público, sorry. Se as pessoas gostassem ou não, não me faria diferença. Não por desprezo, mas apenas porque é assim mesmo. Tem gente que gosta, tem gente que não. É impossível (e desnecessário) agradar a todos.
Minha preocupação era com a única pessoa que eu queria agradar: eu mesma. Eu fiz isso por mim. Enfrentar as aulas, enfrentar o corpo parado há anos que não queria se mexer, enfrentar o diabinho preguiçoso dizendo “ah não vai hoje não, descansa”, foi tudo por mim. Pelo meu sonho de infância. Então, eu queria subir no palco e sair dele feliz comigo mesma. Feliz por ter feito algo que me propus e bem.
E isso é muito pior do que agradar ao outro. Ao menos para uma virginiana... Eu queria ser perfeita. Não precisava ser a melhor dançarina da turma, mas tinha que perfeita. Tinha que subir lá e dançar, e sorrir, e me divertir, e sair com a certeza de que EU achei tudo lindo.
A sorte foi perceber isso um dia antes. Cheguei em casa do ensaio, tomei um super banho e dormi tranquilamente. Acordei sorrindo. Chegara o grande dia e eu estava super calma e com a certeza de que ia dar tudo certo.
Agora, eu fecho os olhos e relembro cada segundo novamente. A luz no palco enquanto entrávamos, o professor na coxia gritando mil coisas que eu já nem conseguia mais absorver, o público se aproximando quando eu saía do fundo do palco e caminhava para a frente, o arrepio que isso deu, os meus pés tremendo tanto que eu achei que ia cair a qualquer momento, a vontade de soltar uma gargalhada nervosa que disfarcei em sorriso para dançar, o momento em que olhei para cima e vi o teatro inteiro, até os últimos camarotes, lotado, e o final, o arrepio que deu quando fiz o último passo e pensei: isso!
Quando comecei o jazz, após a primeira aula, anunciei: não paro nunca mais. Agora, depois de ter me apresentado pela primeira vez, anuncio: não paro nunca mais. Que daqui pra frente, que eu tenha sempre momentos de muita merda ao subir no palco!

7.11.12

Sobre escolhas e sonhos


Fazer escolhas doem. Isto é algo que a gente aprende logo cedo. Toda escolha traz várias sensações: satisfação, dúvida, frustração. Isso acontece porque quando escolhemos uma coisa estamos abrindo mão de  outra. Às vezes é fácil, simplesmente se tem certeza de qual caminho seguir. Às vezes, no meu caso muitas vezes, é difícil por ter que abrir mão de coisas que eu também queria. 
Hoje foi um dia assim. Precisei escolher entre dois sonhos. Foi como escolher se eu queria cortar meu braço direito ou esquerdo. 
Desde criança eu tenho dois sonhos. Não objetivos como "vou fazer faculdade e ser bem sucedida", não desejos como "quero muito uma bicicleta". Sonhos, daqueles que a gente nem assume muito porque são tão grandes que farão o público dizer "ah tá, até parece que vai acontecer". Pense no seu maior sonho, o maior de todos, tão grande que parece que é maior do que você e por isso mesmo quase impossível. Então, é disso que estou falando, eu tenho desde criança dois sonhos: dançar e escrever.
Eu devia ter entre 8 e 9 anos quando isso ficou claro aqui dentro. Uma vizinha tinha uma academia de judô e dança. Como nossas famílias eram muito próximas, ganhei uma bolsa para fazer judô. Eu odiava o judô. Eu ia as aulas porque gostava do alongamento, dos exercícios e de aprender a contar em japonês. Mas odiava a luta. Achava lutar a coisa mais sem sentido do mundo. Confesso que hoje eu não penso assim e até faria alguma arte marcial. Mas criança eu ficava sonhando com o dia em que colocaria a sapatilha nos pés e iria pra aula de Ballet. 
Eu não ganhei uma bolsa de ballet e naquela época não existia programa social, ong e etc para me dar uma oportunidade. Sem grana, eu passei a pensar "um dia eu ainda vou dançar". 
Durante toda a infância e adolescência, uma amiga que fez ballet e se tornou bailarina do Municipal de São Paulo era a única que sabia do meu sonho. Durante todo este tempo, ela fazia os pais comprarem o meu ingresso para as suas apresentações. Eu lembro quantas vezes eu a vi dançando com os olhos cheios de lágrimas. Não era inveja, nunca foi. Eu tinha orgulho dela e me sentia acolhida em ao menos poder assistir algo com que eu tanto sonhava. 
Também nesta idade eu escrevi minhas primeiras poesias e meu primeiro livro. Nunca o terminei, é verdade. Depois de alguns capítulos eu achei a história ridícula e parei. Só fui voltar a escrever com uns 10 anos, quando a professora de português escolheu uma redação minha como a melhor da turma. Foi como se ela me dissesse "você sabe fazer isso". Por volta dos 15, 16 anos eu joguei tudo o que já tinha escrito fora. TUDO. Rasguei e joguei. Disse para mim mesma que aquilo era uma besteira mal feita e que eu não tinha talento nenhum pra coisa. 
Na faculdade voltei a escrever e aí a coisa foi mais normal. Recebi elogios e críticas. Comecei a acreditar que escrever era uma jornada e um dia eu conseguiria ser uma escritora. Acredito nisso até hoje, por isso mantenho este blog que quase ninguém lê. Eu amo cada linha escrita aqui e sei que um dia isso me levará mais longe. Não como blogueira, que aliás está parecendo o "is the new modelo e atriz" que já tinha virado "modelo e dj", mas sim como escritora. Estou falando de livros. No plural. 
Hoje, com 35 anos, eu faço aulas de jazz e escrevo em três blogs além do que ainda não está pronto pra ser publicado. Eu realizei um sonho de criança, não vou nunca mais parar de dançar. Eu caminho para realizar o segundo, sei que vou levar a vida toda nisso. 
Então vocês podem imaginar como foi ouvir o professor de jazz dizer que minha apresentação de fim de ano será no dia 27/11, mesmo dia em que a amiga Lara Fidelis lançará seu livro e me apresentará a uma pessoa a quem me indicou para um evento com mulheres e blogueiras... 
Sim, no mesmo dia acontecerão duas coisas de extrema importância para a realização dos meus sonhos e eu fui obrigada a escolher um dos dois. 
Escolher dançar significa deixar de prestigiar minha amiga e deixar de lado uma oportunidade de começar a profissionalizar meu trabalho como escritora. Escolher o evento significa abandonar minha primeira chance de pisar no palco como dançarina, depois de meses de ensaio e tendo até conquistado uma posição de destaque na coreografia.
Muito difícil. Escolhi dançar. Meu cálculo foi que é mais fácil ter outras oportunidades de me reunir com esta pessoa do que de subir ao palco pela primeira vez. Estou segura da minha escolha. E está doendo pra caralho. Vem a dúvida "e se for minha única oportunidade, aquela que dizem que não podemos desperdiçar porque não haverá outra?". Vem a tristeza "puxa, eu queria muito fazer os dois". Estou chorando desde que saí do jazz. Vou ficar bem, eu sempre fico. Só falta contar pra Lara...  

31.10.12

Inteligência e depressão de mãos dadas



Outro dia li no Twitter uma frase que doeu o coração “Quanto maior a sua inteligência, maior a sua depressão”. Não me lembro quem disse ou se era parte de alguma matéria, texto, notícia, estudo, sei lá o quê. Desculpe-me o autor por não poder dar os créditos, ao menos não me aproprio dela. Acontece que ela ficou martelando aqui dentro. 
Há outras versões mais antigas para esta ideia, como “quem me dera eu ser burro, assim eu não sofria tanto” que o Raul Seixas cantou, ou a velha “a ignorância é uma benção”. Em suma todas dizem a mesma coisa: saber dói. 
Dói enxergar as coisas como são e ter uma ideia de como deveriam ser. Dói falar sobre isso e dificilmente encontrar interlocutor. Dói a velha sensação de mãos atadas. Dói a solidão que isso nos leva.
Talvez seja por isso que tanta gente desiste. Simplesmente desiste, liga o automático, bebe a cerveja no fim de semana e fica tudo tranquilo. Talvez também seja por isso que pessoas muito inteligentes e os gênios sejam em geral tão excêntricos, muitas vezes beirando a loucura.
Mas devo reconhecer que nos últimos anos isso mudou um pouco. Ser nerd virou moda e inteligência virou fetiche. Não sou nerd, não tenho amigos nerds e pra mim eles parecem só mais uma casta dizendo “agora é a nossa vez, ralem para ganhar a carteirinha do clube”. Ao menos ficou provado que inteligência comanda as mudanças do mundo. 
Isso causa um paradoxo: é através do saber, do conhecimento, que mudamos o mundo, o que em si representa uma coisa boa. Mas é este mesmo saber que nos deprime. E nos deprime exatamente no reconhecimento daquilo que não podemos mudar.  
É por isso que saber dói. Se simplesmente não soubesse que o mundo seria mais justo se não existissem mulheres sendo estupradas e sendo encaradas como culpadas pela violência que sofreram, talvez simplesmente as considerasse culpadas também e não sentisse a dor que é lidar com um pensamento arraigado na sociedade de tal forma que as pessoas nem reconhecem a sua existência. Pensamos assim, mas dizemos que não: “não culpo a mulher, mas também o que ela estava fazendo naquela rua escura em plena madrugada!?” e coisas do tipo. Isso é acreditar que não está culpando a vítima, mas continuar achando que SE ela se comportasse diferente, não teria acontecido. Esse SE coloca o ato da mulher como condição para ser ou não estuprada. Se o seu ato é a condição, então é porque considero, lá no fundo, sem assumir até para mim mesmo, que ela mereceu (ou procurou). 
Aliás a luta de mulheres é um grande exemplo da dor e da solidão que o saber pode trazer. Em geral as pessoas rotulam como coisa de feminista e vem com toda carga negativa que persegue o termo. Mas nunca admitem o simples fato que se foram criadas numa sociedade machista, com valores que diferenciam os gêneros, reproduzem diariamente esses valores e pensamentos sem perceber, como naturais e até como valores familiares. Só se desvincula disso através da necessária reflexão se isto é realmente justo para todos. 
Eu posso usar o meu exemplo como prova: antes de estudar o feminismo, considerava-o o contrário do machismo, como a maior parte da população. Mas aos poucos fui tendo contato com a produção científica que existe acerca da questão de gênero e percebi que tal consideração era um preconceito. Eu formulei uma definição sem NUNCA ter lido nada do assunto. E porque fiz isso? Porque é comum, nós fazemos isso mesmo, temos opinião sobre quase tudo, sabendo ou não do assunto. Dificilmente alguém assume que não pode dar opinião porque não sabe nada daquilo. Essa opinião sem embasamento vem do que os outros nos ensinaram: alguém que disse em casa, ou na rua, ou na TV. E simplesmente nos apropriamos deste discurso sem nenhum tipo de comprovação científica ou reflexão. Apenas saímos reproduzindo o que dizem por aí. 
Entretanto, independentemente de eu pronunciar tal absurdo, existe uma produção científica que comprova que eu estava errada. Poderia nunca aceitar, mas eu passaria a vida estando errada sobre o assunto. E isso é muito importante porque em geral as pessoas não aceitam que vivem numa sociedade machista, mas desconhecem os estudos que comprovam cientificamente que o pensamento ocidental acerca dos gêneros é caracterizado pela diferenciação entre homens e mulheres de forma a privilegiar os primeiros em diversos setores da vida em sociedade. 
Saber tudo isso dói. Eu sei o que está errado. Luto para que ocorram mudanças. Sou tachada de radical, mal amada, sapatão, frígida, intransigente e mais um sem número de coisas que nem lembro, só porque sei de algo que a sociedade não sabe, não quer saber ou aceitar. E no fim do dia ainda tenho que reconhecer que nem tudo eu conseguirei mudar. 
Mesmo assim, mesmo doendo, eu prefiro saber. Porque deixar de saber tudo o que eu sei, me tornaria só mais uma no meio do pensamento coletivo, sem identidade, sem propriedade, sem verdade. Apenas a boa e velha ilusão de que o mundo é bom e são os outros que complicam... 

10.10.12

A difícil arte da discussão


Há tempos tenho percebido que os conceitos de discussão e briga têm sido considerados sinônimos. Presenciei e li várias situações assim no twitter e em blogs que leio. Passei por diversas situações assim em reuniões de amigos. Fui mesmo obrigada a ouvir coisas do tipo "parem de brigar" e "aqui a gente gosta de falar besteira, só pra se divertir". 
Eu fico me perguntando quando foi que essa assimilação tão errônea de dois conceitos tão diferentes foi feita. É bem verdade que usamos a palavra discussão para relatar fatos que se relacionam mais com o conceito de briga do que com o de discussão. Quem já não proferiu ou ouviu algo como "aí virou uma puta discussão" para descrever uma situação em que as pessoas passaram a se agredir verbalmente? É realmente muito comum, coloquial. 
No entanto, o verdadeiro significado de discussão é "Investigação da verdade pelo exame de razões e provas que se oferecem pró e contra. Questão, polêmica, controvérsia, debate." O significado é tão claro que é mesmo de se estranhar como é que discussão foi virar, coloquialmente, sinônimo para briga. 
Discutir é debater um tema, uma ideia. É o momento em que os interlocutores expõem seus pensamentos, seus argumentos e buscam chegar ao mais cientificamente comprovável. É neste momento que os ânimos se inflamam ao defender seus pontos e para os ouvintes pode parecer uma briga. No entanto, é exatamente o contrário disso. 
Numa briga não há interlocutores, há rivais. Numa briga não há ideias, há pessoas. Numa briga não há argumentos, há agressões. Numa briga não há comprovação científica, há verdades impostas pelo agressor. 
Essencialmente o que difere um discussão de uma briga é o objeto de ataque. Numa discussão o ataque é às ideias do outro, numa briga o ataque é ao outro. 
Esta diferenciação é tão ou mais importante do que a primeira apresentada. Ideias e pessoas também não são sinônimos. Por mais que o pensamento seja um veículo pelo qual nos definimos e nos mostramos ao mundo, uma pessoa é algo muito mais complexo que uma ideia e, diferentemente dessa, não possui comprovações que determinem sua veracidade ou superioridade. Uma ideia pode ser verificada, quantificada, embasada historicamente, filosoficamente. Uma pessoa é o conjunto das ideias, dos sentimentos, das experiências, das escolhas, das alegrias e das tristezas que viveu. Uma pessoa tem ideias, as defende, muda, aprende, mas não se resume a elas. 
Desta forma, atacar uma ideia é apresentar argumentos e provas de que ela está errada. Atacar uma pessoa é agredi-la.
E porque é a discussão tão apreciada por uns e tão temida por outros? Não posso responder porque é temida, tenho hipóteses, mas não há argumentos que as justifiquem. São hipóteses advindas da minha observação e baseadas em todo meu conhecimento adquirido. Mas são só hipóteses. Prefiro, por enquanto, guardá-las. Prefiro formulá-las e só apresentá-las quando houver estudos e argumentos suficientes para lançá-las. O que posso responder com facilidade é porque uma discussão é tão apreciada, e posso simplesmente porque me incluo no grupo que aprecia uma boa discussão. 
Discutir é uma forma de transmitir, produzir e ampliar o conhecimento. Eu exponho minhas hipóteses, meus argumentos e recebo as hipóteses e argumentos do outro. Num primeiro momento o debate nos levará a procurar cada detalhe que pode quebrar a argumentação do outro e, assim, deixar claro que minhas hipóteses têm mais comprovação do que as do outro. Sim, de que eu estou certa. Mas em muitos casos e, como é comum quem gosta de discutir se arriscar a discutir até o que não sabe, o resultado não é tão simplório. Em geral não há ganhadores e perdedores, há reflexão. E a reflexão é o exercício que nos leva definir quem somos. 
Quero voltar em um ponto polêmico desta questão: quem está certo. Percebi que há um medo pairando nas falas de muitas pessoas. Um medo de que realmente exista o certo e o errado. Eu posso entender este medo, é através das determinações de certo e errado que os padrões de comportamento são moldados, nos são impostos e servem de base para intolerâncias. No entanto, há pontos em que sim, existe o certo e o errado.
Se pensarmos nas ciências exatas, dificilmente alguém dirá: não existe o certo e o errado. O resultado de uma soma é concreto, existe o número certo a que se deve chegar. Não chegou ao resultado, está errado. A questão complica quando pensamos nas ciências humanas. As ciências humanas oferecem várias linhas de análise, de pensamento, de problematização que nos levarão a uma conclusão. No entanto, há sim, o certo e o errado.
Pensemos na Educação. Existem diferentes linhas e métodos educacionais. Todos comprovam sua eficácia, seus resultados. Existe um método certo? Sim. Existe. Depende apenas do resultado que se quer obter. 
Se pensarmos o Direito, a análise pode ficar mais concreta. Através da legislação, normatizamos a sociedade, considerando o que aceitamos e o que não queremos que aconteça. Desta forma, decidimos que nenhuma pessoa tem o direito de tirar a vida de outra pessoa. Então tirar a vida tornou-se errado, não tirar tornou-se certo. Mas mesmo assim existem "errados" que são inocentados. A capacidade de argumentação dos defensores e acusadores é determinante nisso. Portanto aquele que mais conhecer da matéria e encontrar meios para atingir seu fim, estará certo. Pode não estar certo perante o desejo da sociedade ao determinar que assassinato é crime. Mas está certo quanto a aplicabilidade da lei naquele caso. 
Tudo isto é uma questão de ciência. A ciência possui comprovação. O senso comum não. Por isso, muitas vezes, o embate entre quem sabe argumentar e quem só sabe dar a sua opinião pode parecer uma briga. Porque aquele que sabe terá razão sobre a opinião do outro. Cada um pensa o que quiser? Sim. Mas isso não significa que se está certo. Sempre há alguém que sabe mais do que nós.

22.9.12

Ah a praia!


Até eu já estou cansada de me ouvir falar de Jericoacoara-CE. Desde que voltei esse é meu maior assunto. Mas como férias só rola uma vez por ano, tenho direito!
Sempre que viajo, meu olhar fica atento a tudo que posso aprender com os cenários, os ambientes e a arquitetura de cada lugar. Com Jeri não foi diferente, mas confesso que a natureza é quem comanda o espetáculo e de forma tão suntuosa que o resto não tem tanta importância. 
A vila está dentro do Parque Nacional de Jericoacoara, isso já determina muita coisa. As ruas são naturais, de areia. Sim, todas as ruas são de areia porque o local é inteiro assim. Onde não é vila, é duna ou praia. Tudo areia. 
A arquitetura segue aquela carinha de praia: linhas retas, com muitos elementos naturais, principalmente madeira e palha, muita luz e ventilação. Há casas e pousadas com ar mais sofisticado e outras mais simples, mas em geral todas apresentam estes elementos. 
A iluminação é toda subterrânea, não há postes e fios estragando as paisagens. Não há iluminação nas ruas, a noite ela fica por conta dos bares e restaurantes, o que dá um ar intimista delicioso. Quase todos os estabelecimentos ainda reforçam isso com o uso de velas nas mesas. 


O design e a decoração são mais trabalhados. O local, o artesanato, é repaginado e fica tudo muito contemporâneo. 
Uma das coisas que mais me chamou atenção foram as luminárias, lustres e pendentes feitos de escamas de peixes, flores artesanais e até gaiolas. Pranchas de surf, mosaicos e móbiles são elementos que vi em vários locais. Tudo muito criativo.
Essa foi uma das viagens que mais gastei com lembrancinhas! Há várias lojas que vendem peças de artistas locais, todas assinadas e originais. Um deleite para quem gosta de trazer peças de viagens e manter o estilo da casa.




Este gatinho de papel mâchè foi feito por Bruno Dalto. Adorei isso de eles valorizarem os artistas e venderem peças assinadas. Comprei na Jeriarte, onde pode-se achar trabalhos de vários artistas locais.





É de lá também este jogo de mesa e cadeira de brinquedos, feitos de lata. São super delicados, fininhos. Vou mandar enquadrar e colocar na minha sala de jantar. Haviam várias peças destes brinquedos, fiquei encantada.

Portanto, quem gosta de praia, areia, sol, vento, baladinhas intimistas, de valorizar a cultura local e tem espírito de aventura, vai amar Jeri.

19.9.12

Sobre minha avó, memórias e infância

Na casa da vó, em 1986. 
Sei que prometi posts sobre minha viagem de férias, mas aconteceu algo que atropelou a ordem das coisas. Minha vó faleceu. Era esperado, ela estava com 89 anos e há cinco precisando de cuidados especiais. Não teve nenhuma doença, o diagnóstico sempre foi de "velhice". Durante estes cinco anos, sabíamos que ela ia consumir até a última gotinha de energia que tivesse, para então dormir e não mais acordar. Foi assim. 
Recebi a notícia na segunda de manhã, para embrulhar o estômago e não conseguir engolir o café. Por mais que seja esperado, é uma perda. E perdas sempre doem. Eu sentia aquela dor e pensava "ela descansou" e ao mesmo tempo parecia que uma parte de mim tinha morrido. Foi assim que eu fiz uma mala para quem vai passar uma semana na casa da vó, coloquei livro (!?) e esqueci sabonete... Ficava ligando pra minha amiga no trampo e pedindo um monte de coisas porque no fundo, eu só queria era que ela estivesse do meu lado. 
A viagem de carro foi um momento suspenso no tempo-espaço. 5h conversando e rindo sem sentir o que estava acontecendo. A partir daí minha preocupação maior era minha mãe, eu queria estar forte para segurar a barra dela. 
Conforme fomos chegando perto, as memórias da infância foram voltando. Uma coisa que me surpreendeu foi a quantidade de ruínas que vimos na Rodovia Dutra. Muitas construções abandonadas davam a impressão de que grana é algo que não está ali como antes. O caminho até Bananal, principalmente a estradinha entre Barra Mansa (RJ) e a cidade, é lindo. A paisagem estava castigada pela seca em que estamos, mas mesmo assim é mais bonita que todo o oeste paulista (sorry!).
Nesse momento já começou a confusão de emoções - a tristeza pela morte da minha avó e a alegria de rever o lugar onde passei a maior parte das férias de infância. 
Entrar na cidade até arrepiou. Tem uma bifurcação, logo no começo, que povoa vários sonhos meus até hoje. Nunca é Bananal, mas o lugar é aquele. E eu já tinha me esquecido que aquele cenário vinha de lá. Depois foi aquela coisa de "isso é novo" "isso está igualzinho" "que pena, isso está destruído". Bananal é inteira tombada como patrimônio histórico. Isso significa que a cidade nunca vai mudar muito, porque não pode nem asfaltar as ruas de paralelepípedo. O que traz aquela ideia de cidade toda bonitinha e conservada... Mas não, Bananal está perdendo todo este patrimônio para o tempo. 
Os principais prédios da cidade, que são da época do primeiro ciclo do café, estão todos precisando de restauração. Por ser patrimônio, as pessoas não podem reformar suas casas de forma que mude as fachadas. Tudo deve ser restaurado e restauração é muito mais caro. Então está tudo lá, se perdendo. 
Não sei como funciona a questão de verbas para cidades assim, o que sei é que Bananal tem pouquíssimos recursos, a arrecadação é insuficiente para empreender a restauração de tantos prédios. Vez por outra conseguem algo. Como a restauração da Estação de Trem que virou um museu. Ficou maravilhosa, mas foi quando eu era criança. Depois, nunca mais. A linda estação inteira feita de placas de ferro trazidas da Bélgica está lá, deteriorando novamente. 


Há investimentos para atrair o turismo e realmente a cidade tem muita coisa pra ver. Além do centro histórico, Bananal é privilegiada com um rio limpo com vários pontos para banho, subindo a serra começam a aparecer as cachoeiras, ao fundo da cidade fica a Serra da Bocaina que rende muito para quem gosta de ecoturismo. Na cidade ainda tem muitas lojinhas de artesanato local e de doces caseiros desses que não existem mais. 
O segundo reencontro começou já no velório, conforme a família ia chegando. Encontrei parentes que eu não  revia há mais de 10 anos. E foi assim para todos ali, principalmente para o filhos da D. Maria Xavier do posto de saúde que mora na Boa Morte, esposa do João Mendes Leal, barbeiro. Além de reencontrar a família, eles reencontram os amigos de infância, as amigas da mãe, a cidade inteira.
Minha avó trabalhou no posto de saúde da cidade até se aposentar. O cargo para o qual ela foi contratada eu nunca soube, mas a verdade é que ela fazia tudo no posto que tinha só mais uma funcionária e o médico. Minha avó era conhecida como enfermeira e mais de um "desconhecido" que veio me cumprimentar falou "ah ela cuidou de todo mundo no posto, D. Maria era uma mãe pra gente".
Essa sempre foi a visão que eu tive da minha avó: ela levou a vida cuidando das pessoas. Cuidou de uma prima que assumiu, a minha Tia Carminha. Cuidou dos 5 filhos que assumiu como seus quando se casou com meu avô que era viúvo. Cuidou dos seus 8 filhos. Cuidou do irmão, meu Tio Chico, que tinha alguma deficiência mental que ninguém sabe ao certo. Cuidou do meu avô quando ele adoeceu. Cuidou da cidade inteira no posto de saúde. Então quando já estava aposentada e sem ninguém para cuidar, mudou-se para a casa da filha mais nova, que acabava de engravidar, para cuidar da minha prima. Enquanto ela esteve consciente, ela cuidou. E depois, já debilitada, ela manteve alguns hábitos de quem cuida, como arrumar a barra da nossa blusa sempre que a gente chegava perto dela, do mesmo jeitinho que fez a vida inteira. 
Por ser assim, ela reunia as pessoas a sua volta. Enquanto morou em Bananal, a família inteira ia para lá visitá-la. Depois que se mudou, a família quase inteira ia para Américo visitá-la. 


Ribeirão, poço do Bambuzal, 1991. 



No velório, minha vó fez a mesma coisa: uniu todo mundo novamente. E em muitos, despertou a vontade de ficar perto de novo. De não deixar novamente que o tempo passe tão rápido sem que possamos nos rever e tomar outro banho de rio. 






Um amigo de infância da minha mãe, disse a frase que mais resume tudo o que eu senti nesse dia: "Estou muito contente de revê-la, apesar do momento". 

25.8.12

Fênix II


Como prometido, aqui está a segunda foto, cheia de dor e orgulho.
No começo do mês fui lá, pintar a tatuagem. Cheguei sem saber ao certo o que queria, minha única certeza era "uma cor bem feminina". Eu fiz uma tatuagem grande, queria que a pintura a deixasse delicada. 
Fui com muito medo da dor. Lembrava o quanto doeu para riscar e ouvi TODO mundo dizer que eu ia sentir muito mais dor pra pintar. Então fiquei nervosa e quase desisti. Minha surpresa foi aguentar 3h30 de sessão, só parando uns minutinhos porque a outra perna dormiu... Doeu, claro. Mas já senti coisa muito pior na vida. Descobri com isso que sou forte, muito mais do que eu imaginava. 
Quando acabou, minha felicidade era tanta, me senti tão realizada, que nem lembrava mais da dor. Eu queria era mostrar pra todos como tinha ficado. Quando o tatuador disse que ia tirar uma foto pra postar na página dele, fiquei mais orgulhosa ainda: ele também estava satisfeito com o trabalho. 
Mas de todos os elogios que recebi, de todas as manifestações, a melhor foi a da minha mãe. Ela não gosta de tatuagens e por ela eu nunca faria algo assim. Pra mim ela disse que ficou bonita. Mas no dia seguinte minha irmã chega e diz "Quero ver, a mãe disse que ficou linda! Se ela disse, deve ter ficado!". É, se minha mãe que não gosta e não queria que eu fizesse elogiou, é porque ficou foda mesmo. 
Quando escrevi sobre o porque de fazer a fênix e tudo o que ela representa pra mim, um amigo fez o seguinte comentário: "Vemos agora como vc mudou. Quem disse que tatto é coisa de pele? Prefiro pensar que tudo já está lá, apenas com a diferença de que após algumas camadas de tinta, todos tem o mesmo prazer de ver o que antes só a gente via". E senti um cisco no olho ao ler, talvez pelo dos bebês... Mas é exatamente isso, essa sou eu, agora pronta e à mostra, para quem quiser enxergar.

13.8.12

Meus queridos ranzinzas



Quando me mudei para o interior de São Paulo descobri duas coisas: paulistanos são ranzinzas e metidos. Eu estava em minoria, a maioria da faculdade era de pessoas do interior e todos me tiravam de metida só por ser paulistana. Eles tinham razão do estereótipo, muito paulistano é metido. Paulistanos acham que só porque moram naquela metrópole monstruosa são melhores que o povo do interior e de outros estados. Eu odiava ter essa fama porque nunca pensei assim. Então, a partir daí, quando encontrava com um paulistano se vangloriando eu quebrava as pernas dele e sorria - um a menos nessa fama que eu não quero pra mim. 

Mas quando vinham reclamar que paulistano é ranzinza, que está sempre de mau humor, que não conhece nem o próprio vizinho blá blá blá, eu defendia minha cidade. Sim, somos assim. Mas e daí? Quem foi que criou uma regra que bom humor 24h por dia, 7 dias por semana é necessário? Quem foi que disse que só porque o cara é meu vizinho eu devo conhecê-lo? Ser educado, dar bom dia, boa tarde, boa noite é uma coisa e isso muito paulistano faz. Agora ser obrigado a conhecer todo o prédio ou toda a galera da rua é incompreensível pra mim. 

Sabe porque isso não nos magoa? Porque o vizinho pensa igual e também não faz questão de se tornar amigo só porque mora ao lado. Melhor que isso, é que nós simplesmente não estamos preocupados com a obrigação. Amigos se fazem mais pela proximidade de gostos do que pela localização geográfica. 

Imagino que para uma pessoa que está acostumada com pessoas mais sorridentes isso seja absurdo. Sei como é no interior, onde moro há anos. Deve ser mesmo difícil mudar para SP e enfrentar isso. Assim como foi difícil para eu me acostumar com o lado invasivo do interior. O público é muito mais público no interior e o conceito de privado é quase inexistente. Tudo que se faz é conhecido 24h por toda a cidade. Todo mundo é parente de alguém, estudou com alguém, mora perto de alguém. Então o que parece amizade, calor, simpatia e alegria no interior, me parece uma prisão dos bons costumes. 

Neste sentido, amo a liberdade de SP. A cidade é tão grande, tão independente do seu dia a dia, que te garante o anonimato. Não se é ninguém em SP e isso é libertador. Quando não se é ninguém, pode-se ser quem quiser. 

Há uma outra coisa que amo em SP e não encontro em todos os lugares: civilidade. A Avenida Paulista é mais limpa que o vilarejo inteiro. Lógico que numa cidade enorme nem tudo e nem todos são assim. Mas é o único lugar que fui e que as pessoas respeitam fila, respeitam os acentos especiais no metrô, dividem mesas com estranhos nos shopping, dão passagem no trânsito e sabem pra que serve a seta. São coisas pequenas que tornam a vida mais fácil. E SP precisa disso, ou nos mataremos.

Ficava indignada quando na província via as pessoas jogando o lixo pela janela do carro. Mais indiganada ainda quando eu dizia que isso era absurdo e o povo gargalhava me chamando de careta... De que adianta ser simpático com a cidade inteira, se você vai jogar a sua sujeira na cara de quem está atrás?

Outra coisa que gosto em São Paulo: ser bem tratada nos estabelecimentos. Em vários lugares que fui, como Brasília, as pessoas são super grosseiras e não dão atenção nenhuma ao cliente. Super normal seu pedido vir errado, demorar horrores, esquecerem sua bebida. Aqui no vilarejo dizemos que existe o padrão Paulínia de atendimento: grosseria com cara de Regina Duarte e tudo em falta. E não sou só eu, paulistana, que digo isso. Os locais também dizem. O que gosto é que eles reconhecem isso e riem. Como eu rio do mau humor paulistano. 

No entanto sou obrigada a admitir que SP nem sempre foi assim. Nas décadas de 80/90, quando passei a adolescência na metrópole, foi o limite que fez as coisas mudarem. Lembro que as pessoas não davam lugar no ônibus e isso começou a virar confusão. Tinha gente dentro do ônibus que intimava o folgado da vez, tinha cobrador que mandava o cara sair. Era sempre uma tensão de que ia virar briga. Mas aos poucos, tornou-se vergonhoso ser o cara que não dá o lugar. O mesmo com o lixo. Uma vez, eu estava segurando o papelzinho de Trident, porque não tinha lixeira por perto. Naquela de ficar brincando com o papel na mão, ele caiu. Lembro até hoje das caras feias no ponto de ônibus me olhando e que só viraram depois que eu me abaixei e peguei o papel. Se achei exagerado? Não, eu ri. Eles estão certos, a cidade já produz muito lixo para existir, não custa cuidar do espaço que milhões usam. 

Lógico que SP tem milhões de defeitos, assim como todos os lugares do mundo. Lógico que todas as pessoas de uma cidade não são iguais, somos indivíduos, únicos. Detesto generalismos. Tem gente mal educada em SP, tem bairros imundos, claro que sim. Assim como tem cidades do interior que parecem casinhas de boneca de tão cuidadinhas. O que mais me intriga é essa competição para ser melhor. Nem paulistanos são melhores, nem interioranos, nem nordestinos, nem manauaras, nem cariocas, nem europeus. É só que do meu lado, eu prefiro quem aceita meus defeitos e sabe rir dos seus. 

21.7.12

Fome


Não há palavra que defina melhor Rita do que esta: fome. Rita tem fome de tudo. É uma devoradora. Foi assim desde criança. Agora, aos 70 anos, olha para trás e constata isso. Sentada próxima a janela, olhando a grama verde lá fora, pensa que não há graça nenhuma em ficar olhando aquilo. Grama foi feita para pisar e  Rita queria era correr e descobrir o que vem depois. Tinha fome do que estaria ali guardado pra ela. 
Primeiro relembrou os amores. Foram muitos. Rita se apaixonava e mantinha uma fome constante por aquele homem até que esgotava todas as gotas daquele amor. Então, surgia outro. Não era possível pensar em um único amor para sempre, com tantos homens interessantes a se conhecer pelo mundo. Ninguém vive só de comer pizza. Existem muitas opções para se sentir apenas um sabor a vida toda. 
Alguns, a gente gosta mais e acaba querendo repetir quando dá. Foi assim com Antônio. Conheceu-o no Rio, em sua primeira viagem sozinha. Era o auge de Copacabana e Rita aceitou a sugestão de um estranho e foi experimentar o melhor filé do Rio de Janeiro. Durante o almoço, trocou olhares com o moço sentado do outro lado do salão e foi surpreendida por ele na calçada, se apresentando. Conversam andando na orla e ao fim da tarde já estavam apaixonados. Foram 10 dias no Rio vivendo este amor. Depois Rita voltou para sua vida, Antônio para a dele. Por muitos anos ainda se encontraram no Rio, passando ao menos um final de semana juntos. A fome por Antônio era constante. 
Um leve sorriso foi visto neste momento no rosto da senhora que apenas olhava a grama. Um sorriso para Antônio. 
Depois, relembrou os lugares. Rita morava em São Paulo e achava a cidade pequena. Viajou inúmeras vezes na fome de conhecer o mundo. Foi para todos os lugares comuns e para todos os inusitados que alguém indicava. De Paris a São Francisco, interior de São Paulo. Ia para todo lugar, se infiltrava, comia em todos os restaurantes, bebia em todos os bares, tirava todas as fotos e comprava todas as roupas. Até hoje tinha coisas trazidas dessas viagens entulhando a casa. 
Dessa vez foi impossível não rir mais descaradamente, sem se preocupar se alguém a enxergaria ali, olhando a grama e rindo sozinha.
Começou a chover. Uma chuva leve, dessas que molham mais que temporais, mas não fazem barulho. E Rita, relembrando a vida e sentindo todas as fomes saciadas apenas suspirou. Lembrou de Coco Chanel dizendo "é assim que se morre" e sorriu novamente. Adeus Antônio, adeus Paris. Enfim, eu não quero mais comer. 

8.7.12

frases para guardar


"Constato e afirmo com tristeza: a inveja e a presunção campeiam nos meios de nossa melhor intelligentsia:  é me impossível esconder a verdade, pois lhe tenho sentido em carne própria as consequências".

"É nessas ocasiões, de desgraça e de tristeza, que se comprova o valor da cachaça".

"É óbvio que o talento e o saber não bastam para assegurar o êxito, a vitória nas letras, nas artes, na ciência. Difícil é a luta de um jovem pela notoriedade, áspero seu caminho. Lugar-comum? Certamente. Tenho o coração pesado e busco somente expressar meu pensamento sem me preocupar com pompas de estilo e fantasia.
Para obter-se pequeno aplauso, nome nas colunas, citação em jornais e revistas, vasqueiros bafejos do sucesso, paga-se alto preço em compromissos, hipocrisias, silêncios, comissões - digamos de uma vez a palavra exata: baixezas. Quem se nega a pagar? Entre os colegas de sociologia e musas, antropologia e ficção, etnologia e crítica, não sei de nenhum que tenha regateado. Em compensação, os de maior calhordice são os mais exigentes em matéria de integridade e decência - dos outros, é claro. Posam de incorruptíveis, proclamam-se caráter sem jaça, vivem com a boca cheia de dignidade e consciência, ferozes e implacáveis juízes da conduta dos demais. Admirável desfaçatez. Dá resultados, há quem neles acredite".
(Jorge Amado - Tenda dos Milagres)

30.6.12

Sobre escolhas, objetivos e o outro


Sou uma pessoa super sociável. Nunca tive dificuldade para fazer amigos, falar em público, paquerar, me apresentar no primeiro dia de trabalho. Mas estou agora passando por uma fase, que tudo o que eu mais queria era ser um ermitão. 
Há tempos que são dedicados à conquista de um objetivo. Quem escolhe isso e se decide a fazer tudo o que for necessário para alcançar o que almeja, sabe exatamente o custo que lhe traz. E só quem escolhe sabe.  
Eu fiz uma escolha dessas há pouco tempo. Escolhi investir em algo que é o mais difícil de tudo pra mim. Estou 100% voltada a isso. Mente, corpo e coração. Minha concentração diária é total, todas as minhas energias estão voltadas para o meu objetivo. 
Consequência inevitável: o que vem de fora me atrapalha. Eu encontrei meu ponto de equilíbrio e racionalizei   para definir estratégias, tempo, metas. Estou ali, seguindo o script. Então, quando o outro vem na minha direção e propõe algo diferente, mesmo que com a melhor das intenções, ele desestabiliza o meu equilíbrio e me atrapalha. 
Desestabilizar é parte do crescimento. Mas há o tempo para cada coisa. Eu apenas comecei a caminhada, desestabilizar-me agora pode colocar toda a viagem em risco. Felizmente eu já me estabilizei de coisas piores na vida, como vencer a depressão por duas vezes. Felizmente eu me conheço o suficiente para fazer o que diz Joseph Campbell:

"Ache um lugar dentro de si onde haja alegria e a alegria expulsará a dor"

Para maioria das pessoas que tem um grande objetivo como o meu, a alegria é o prazer da conquista. Pensar em como será a vida quando todas as etapas estiverem completas é um alívio a esta tensão. Valerá a pena. 
Não é o meu caso. Eu vivo do presente. Não sei planejar nada muito distante. O futuro é pra mim um sonho bom, apenas confio que o dia de amanhã será melhor que o de hoje (motivo pelo qual eu acordo de bom humor na maioria dos dias). Então, eu preciso de uma alegria imediata. E eu já achei a minha. Eu me alegro com o caminho todo. Cada passinho pequeno que dou é como a grande conquista para mim. 
Talvez por isso precise de mim mesma 100% do tempo. Porque a cada dificuldade que enfrento, preciso respirar, me acalmar, superar e depois dizer "isso Mica, você está conseguindo". 
Talvez por isso o outro me desestabilize tanto. É comum, na intenção de ajudar, o outro dizer "você está fazendo errado" e que o certo é o que ele pensa que é o certo. Escolhas são pessoais, os caminhos também. Não posso exigir do outro que tenha a sensibilidade de me apoiar apenas, enquanto caminho. Até porque ele realmente acredita que está me apoiando quando me julga e me acusa. Quem tem que engolir o sapo sou eu. Por isso seria muito melhor poder tirar férias e viajar sozinha pra um lugar calmo em que eu possa ver o mar de manhã. 

24.6.12

Feng Shui: O Lo-Shu

A tradição chinesa conta que um dia saiu do rio uma grande tartaruga trazendo em suas costas o desenho de uma grelha e símbolos que simbolizavam nove números. Esta representação foi copiada, estudada e associada ao bá guá, ao trigramas e aos elementos, formando o quadrado mágico Lo-Shu. 

Os números no Lo-Shu estão posicionados de modo que a soma dos mesmos em qualquer direção seja 15. Este número está associado ao ciclo lunar. Cada número tem uma correspondência no bá guá e com uma área da vida, respectivamente. 


O Lo-Shu é usado para se determinar qual o número pessoal e qual a área ou aspiração tem relação com a pessoa. Também é aplicado à numeração da residência, descobrindo-se qual área está relacionada ao imóvel, influenciando os moradores e vida nele. 
A aplicação do Lo-Shu auxilia tanto no conhecimento de características e tendências pessoais, como indica as possíveis dificuldades comuns que a pessoa pode enfrentar conforme o guá a que se refere. Assim, descobre-se como ativar a área relacionando-a com seu morador específico e visando auxiliá-lo na conquista de seus objetivos. 

2.6.12

Song pop, festa junina e chega de problemas


Estou tentando atualizar o blog há alguns dias. Abro e fico olhando a foto com minha mãe no último post e não vem tema nenhum. Ou até vem alguma ideia que não me convence e não consigo desenvolver. 
Em momentos que a mente funciona demais e não consigo desligar dos problemas, tenho uma tática: jogos. Jogo qualquer coisa, até paciência no computador. Sim eu gosto de paciência, principalmente a Spider, faço no nível mais difícil e consigo terminar. 
Esta semana foi um destes momentos e minha amiga Kelly me desafiou no Song Pop. Resultado? Vício. Que "qual é a música?" moderno! É uma delícia ficar tentando adivinhar as músicas! Igual quando eu e minhas irmãs brincávamos de "Qual é a música?" no carro, para fazer a viajem até a casa da vó passar mais rápido. Pensava numa música, escolhia uma palavra e as outras tinham que adivinhar. Ríamos e cantávamos desafinadas os trechinhos que tinham a palavra-chave. Divertidíssimo!
Então, nesse momento "jogando para não pensar" e mesmo assim querendo atualizar o blog, pedi desesperadamente para que alguém no Facebook ou no Twitter me desse um tema. Assim na linha: pede que eu escrevo. Como tenho milhares (cof cof) de seguidores e amigos, recebi uma única sugestão: festa junina. E abracei a ideia na hora. 
Amo festas juninas. As comidas, a quadrilha tradicional, as barracas de brincadeiras, tudo! Pena que é tão difícil achar uma boa festa junina por aí. Se me dizem que a Quermesse da igreja tal é boa, vou. Ou a Festa da escola X, vou também. É quase uma saga por uma boa festa junina e raramente acho. 
A última foi a quermesse de uma igrejinha na região da Barra Funda, em SP. Pequena, tinha tudo de mais típico na festa (que todo mundo sabe o que é e eu não vou ficar falando) e estava absurdamente lotada. 
Aqui no vilarejo dizem que boas são as festas que o pessoal faz em chácaras. Nunca fui nessas, parece que este ano vai rolar uma deste tipo do pessoal do trampo. Vai ser boa, mas vai ser do trampo. 
Fui um ano na de uma escola daqui. Parte boa? As comidas estavam ótimas e super baratas. Parte ruim? Mania de pedagoga de achar que tem que atualizar a coisa ou os alunos não vão gostar. Então era uma festa com o pior do pop e a melhor comida de festa junina. Sem barracas e com bingo para os pais. Dar espaço ao novo, não é destruir o velho. O espaço aos dois, cada um no seu momento, e o estudo dos dois é necessário para o desenvolvimento cultural. Mas, infelizmente, nossas pedagogas ainda estão perdidas nisso. 
Críticas e irritações com minha antiga profissão a parte, que bom que junho chegou: está aberta novamente a temporada de procura a festa junina perfeita! E esta é uma boa brincadeira pra não pensar nos problemas ;)

13.5.12

Minha mãe


Eu sempre brinquei de chamar minha mãe por vários nomes: Mary Helen, Mamy, Mama, Maria Helena Mendes Leal Huertas (ela não tem o nome do meu pai), Mother, Momys, Mãe. E essa é só uma das brincadeiras que gosto de fazer com ela. 
Eu já escrevi aqui sobre meu pai, minhas sobrinhas e sempre digo "tenho que escrever sobre minha mãe", mas a verdade é que tenho tanto a falar desta mulher incrível, que fico perdida. Tanto que acabo de fazer duas introduções para este texto. 
Vou seguir a cronologia, para me ajudar. Lembro de muitos e muitos momentos com minha mãe. Lembro de quando ela costurava pra mim. Eu estava na terceira série, tinha uns 8 anos, ficava brincando e arrumando coisas para fazer enquanto esperava ela me chamar para a próxima prova. Num desses dias decidi que queria escrever uma poesia. Aí escrevia e mostrava para ela. Que dava opinião. E minha mãe não elogiava se estava ruím só para me agradar, ela criticava e dava sugestões. Foi numa dessas tardes que eu inventei que queria escrever um livro e comecei. Lembro de quando mostrei e a primeira frase dela foi "está bom, mas porque você está usando tanto lhe?  substitui". E nossa, como foi difícil mudar o texto e substituir tantos lhes! 
Lembro da boquinha de brava que ela faz até hoje. Era só apertar os cantos dos lábios daquele jeito que eu já tremia porque sabia que vinha bronca. Parava na hora tudo o que estava fazendo e dizendo. Muitas vezes eu nem sabia o que era que estava errado, mas por segurança, virava uma estátua.
Minha mãe me ensinou a subir em árvores e a comer frutinhas silvestres que ela pegava no meio do mato quando era criança. Minha mãe me ensinou milhares de brincadeiras: pular corda, elástico, barbante e até a descer o barranco de papelão.
Mas as maiores lições, vieram de situações em que ela me mostrou que a vida é enorme e que valores fazem você ser quem é. Lembro quando, depois de uma semana comendo arroz, feijão e ovo, reclamei. Ela respondeu "agradeça que no seu prato tem ovo". Olhei e no dela não tinha. Não havia jeito mais prático de aprender a olhar o outro, a entender o que era ser egoísta e a entender o que ela era capaz de fazer por mim. Foi no fundo, um ensinamento e mais uma prova de amor.
Mais tarde eu descobri toda a sua história de amor, que se tornou uma história de luta contra os preconceitos, a sociedade e a família. Com 20 aninhos minha mãe saiu de casa para assumir um relacionamento com um cara 20 anos mais velho, desquitado, em plena década de 70, grávidos. Isso lhe custou problemas na família que não aceitavam a relação, mágoas, sua carreira. Mas lhe rendeu amor e 3 filhas. Era o que ela queria, ela foi atrás e conseguiu. Acho mais lindo ainda, que minha vó, não foi contra o amor de sua filha. Minha vó, uma velhinha do começo do século 20, apoiou e nunca diferenciou minha família por esta história. Um dia, preciso escrever sobre essa mulher também, porque ela é outra inspiração pra mim.
Lembro de quando um dos meus namoros acabou e eu a vi abraçada a uma amiga, chorando e dizendo "até quando isso vai acontecer?". Estava doendo em mim, estava doendo nela.
Quando meu pai morreu, minha mãe a assumiu a casa, as filhas, a vida. Ela odiava dirigir e foi tirar carta e enfrentar o trânsito de SP. Em momento nenhum, deixou que a falta do meu pai, fosse além da saudade. Ela fez tudo para que nossa vida só melhorasse. E conseguiu.
Então eu passei na faculdade para morar longe 450km. Disse: e agora mãe, como eu vou fazer, a gente não tem grana... E ela me respondeu: É isso que você quer? Então vai, o resto a gente pensa depois. Fui, aos 19 anos eu saí de casa com o apoio da minha mãe. Fiz muita merda, aprendi muito, mas sempre voltava pra ela, pra pedir conselhos e pra deitar no colo. Nessa mesma época ela me ensinava a cozinhar pelo telefone. E eu ficava doente lá e ligava pra ela, que nada podia fazer, mas me acalmava.
Quando, depois de anos de viuvez, ela decidiu sair e começar a namorar de novo, foi a minha vez de apoiá-la. Nunca tive ciúmes ou qualquer infantilidade desse tipo. Além de minha mãe, ela é uma mulher linda e guerreira que merece muito ser feliz. Então eu escutava as histórias dos caras sorrindo, porque minha mãe estava buscando ser feliz de novo.
Essa mulher é meu maior exemplo. Ela não parou no tempo. Ela se supera dia a dia, acompanha o mundo. Quando criança me disse que não gostaria de ter um genro negro, na minha adolescência, sabendo que eu me sinto atraída pela beleza negra, fez questão de me mostrar uma família de amigos dela dizendo "Mica eles são lindos, você ia adorar". Quando criança ela era católica, hoje ela já passou por várias religiões e se diz espiritualista. Quando criança ela me preparou para casar e ter filhos, hoje ela me diz que acha normal eu não querer ter filhos porque isso não é necessário para uma mulher ser feliz.
Ela cuida da minha avó e de nós. Vai aos bailes a semana inteira e dança tanto que chega em casa com dores nos pés. Às quintas, depois do baile, vem tomar um café da tarde na minha casa e ficamos horas conversando e contando a vida. Os anos passam e ela está cada vez mais jovem e bonita.
Não vou conseguir parar de falar dela, esse texto não tem um fim, tanto quanto eu quero que ela seja eterna.

1.5.12

Sobre doença e cuidado


Sumi. Quem me acompanha no twitter e no facebook sabe porque: dengue. Fiquei deitada por 6 dias sentindo dores muito fortes, enjôo, fraqueza, remédios e médicos. Agora estou bem, só lidando com a chatice da coceira que as manchas vermelhas causam. Mas foi desesperador. 
Acho que o pior de tudo nessa doença foi enfrentá-la sozinha. Hoje, quando pude ficar com minha irmã e sua família por poucos minutos, eu me senti muitíssimo melhor. Infelizmente fiquei doente numa época em que minha família não podia estar comigo. Foram 6 dias deitada sozinha em casa, sem forças pra fazer nem a minha própria comida, passando mal até no banho e pensando que eu só queria alguém aqui. Alguém pra me dar conforto e fazer a coisa ser menos chata. 
Por sorte, isso foi uma situação muito específica. Em geral, minha mãe vem me ver e fazer o bom e velho chá que cura tudo. Imagino como deva ser horrível para quem nunca tem essa sorte. 
Alguns podem achar drama, mimimi, manha. Não acho. Estar doente é difícil e triste. Já enfrento a vida diariamente, como todo mundo. Tenho que ser forte para tudo e estou sempre sozinha. Mas quando estou doente e meu corpo não responde à força que necessito, eu realmente preciso de ajuda. 
Acho incrível quem não precise. Incrível e mentiroso. A pessoa dá um jeito, enfrenta, eu enfrentei esses dias. Mas dizer que não precisa e que desejar ser cuidado quando se está doente é manha, é mentira. 
Quando o corpo adoece, o equilíbrio se desfaz. Cada pessoa reage de um jeito, no entanto é esperável que as emoções fiquem afloradas e a mente não faça a sua parte tão perfeitamente. 
Cuidado, carinho, aquece o coração. Acalma. Faz ter a segurança que nada pior vai acontecer, porque qualquer coisa tem alguém ali para te ajudar. 
Mulheres têm a mania de dizer que "homem é mole, qualquer resfriado faz um show" e coisas do tipo. Acho apenas que eles aceitam ser cuidados. Eu também aceito. Se estou doente quero cuidado. E estou disponível a cuidar, quando for o contrário. 

21.4.12

Para decorar sem sair de casa

Dica para quem gosta de produtos diferentes e com uma carinha contemporânea, duas lojas virtuais que amo: O Segredo do Vitório e Roque Estrella. 

O Segredo do Vitório eu descobri caçando lojas de decoração na net. Amei, já comprei, chegou tudo certinho. Os preços são variados e agradam. Produtos para decoração e ótimas opções de presentes. Atualmente estou namorando o organizador de cabos Ursinho B-Bear:  

 e o conjunto de colheres medidoras Matrioskas M-Spoon: 

A Roque Estrella pulou na minha frente um dia no Facebook, quando procurava a página do Vitório lá. Gostei de cara e saí curtindo tudo. Tem uma cara mais vintage, preços na mesma faixa das lojas em geral e produtos que só vi por lá. Os adesivos são um show a parte, como este para geladeira

ou este de Mandala que vai ficar lindão na minha sala! 



Um show


eu estava dançando na frente do palco
ele cantava para todos
olhando para o nada
e a guitarra gritava

meu cabelo voava com as batidas
e eu abria e fechava os olhos
para curtir a som e a imagem
sem poder perder nada

o corpo pulsava como cada música
o sorriso dominava o rosto
e o coração saia pela boca

era paixão? era loucura?
era
era a liberdade rasgando a pele

8.4.12

O meu Lolla

Enquanto eu escrevo aqui, está rolando o show do Arctic Monkeys. A chuva resolveu cair no seu melhor estilo tempestade e atrapalhar meu programa de fim de domingo, levando o sinal da TV com ela. Tudo bem, escreverei. 
Lollapalooza para mim, mesmo vendo em casa, foi incrível. Nos quatro palcos as programações estavam muito boas. Nos quatro palcos eu teria assistido muita coisa. Mas o que me fez entrar em depressão por não ir foram dois, Joan Jett e Foo Figthers. A sensação foi a mesma de quando perdi Sonic Youth no Free Jazz e Rage Against the Machine no SWU 2010: "que merda de rocker és, Micaela?!". Sim, me senti uma merdinha. 
Não ter grana pra fazer várias coisas legais é uma bosta. Não ter grana pra fazer aquilo que mais se gosta na vida, é destruidor. Que pena, algo que só vou superar quando for a outro show. 
Em dois dias de festival o Lolla se caracterizou por trazer bandas que nem todo mundo conhece, mas que quem conhece estava esperando há muito para ver, além de alguns grandes nomes que agradariam vários grupos. 
Sábado pra mim começou com Marcelo Nova que me surpreendeu - apresentou seu rock que todo mundo conhece, mas a postura rock que só alguns ainda mantém, aquele pegada quebradeira, contestadora, que o rock arrumadinho se esqueceu. 


Ah e o baixista da banda dele era gato! 


Depois foi a vez de Cage the Elephant mostrar a que veio e mostrou bonito. A empolgação e performance do vocalista foi contagiante. Mas deu pra ver que eles estavam sofrendo muito com o calor. O baterista passou mal e o show acabou duas músicas antes. Não conhecia tudo que a banda tocou, mas gostei de tudo o que ouvi. O show correu sem causar aquela sensação de "ah tá bom, agora pode acabar". 


O Rappa é O Rappa e todo mundo sabe qual é. Show bom, músicas boas, animação, combinou com o sol. Sem mais delongas. Depois veio a banda que só eu gostei - Band of Horses - musiquinha calma, pra assistir sentado. Não tem muito a cara de festival, mas eu curti. 


Próxima banda foi o TV on the radio que é um som para poucos. Conhecia algumas, mas não tem como não sentir a qualidade dos caras. O show mostrou mais ainda a competência e já deixou todo mundo no clima. 


Então o rock começou! Joan Jett surgiu diretamente dos anos 70 com a mesma cara! Todo mundo comentou que o rock a manteve jovem. A voz também era a mesma, o jeito de tocar que todas as rockers depois dela imitaram. As dancinhas, tudo. Muito, muito emocionante ver Joan no palco. Eu nem sei qual é a cara da banda, desculpem-me The Blackhearts, mas fiquei grudada na Joan. 


Perdi as contas de quantas vezes me arrepiei. Pulei e gritei todas as músicas sozinha na sala de casa e me xingando internamente por não estar lá. Joan é o mais puro rock. Se você gosta de rock e não conhece Joan Jett, você nem sabe do que gosta. 


Já estava neste nível de histeria quando começou o Foo Figthers. Dessa vez além de pular, cantar, gritar e twittar, eu chorei. Com Best of You então, minha música mantra, chorei alto. Como eu não estava lá!? Como!? Foi lindo. O show foi incrível. A banda é incrível. O Dave é um dos homens mais cobiçados pela minha pessoa. Só uma coisa define tudo isso junto acontecendo: wow. 


Para meu delírio ainda teve Joan no palco com os caras, arrasando! 


Segundo dia de Lolla era dia de almoço em família. Por sorte, minha irmã gosta de Gogol Bordello e topou assistir. Um dos melhores shows do festival. Melhor ainda ver o público lotando o palco e cantando todas as músicas. Ficou mais que provado que Gogol devia ter tocado entre as estrelas do final. 


Poderia ter sido por exemplo no lugar de MGMT que foi enfadonho, lento e não acabava nunca. Na sequência veio Foster the People que é dançantinho e gostoso de ouvir. Terminaram com Pumped of Kicks, incendiando a galera. 


Quando Jane`s Addiction foi anunciado eu já sabia que ia ler um monte de críticas. Conheço 3 pessoas que gostam de Jane`s, incluindo eu. A maioria nem sabe que os caras estão na estrada desde 1985, nem que são considerados os precursores da cena underground, nem que quando se separaram criaram o Porno for Pyros, e integraram o Polar Bear e o Red Hot Chili Peppers. Achei que não tocariam a música mais famosa, aquela que todo mundo gosta e nem sabe que é da banda, mas foi uma delícia ouvir Jane Says mais uma vez. 


Então acabou o Lolla pra mim. Ficou a certeza de que o rock é meu combustível e vale a pena uma dividazinha para viver um momento assim.